O fenômeno é mundial mas aqui no Brasil ele coincide com a famigerada “Era Lula”, com o domínio da quadrilha petista de assaltantes de cofres públicos que, não bastasse assalto sistemático, ainda vende a ideologia do século 19, que nunca deu certo. O negócio é tão ruim que elegeu, apenas por contraponto, uma anomalia humana como Bolsonaro, que lidera outra quadrilha, a dos golpistas adoradores de pneus.
Creio que o mindset democrático se diferencia da organização social correspondente. Muitos erros na estruturação mundial das entidades dos países democráticos provêm justamente da tolerância que este mindset estimula. Somos tolerantes com ideias divergentes, mas quando elas não são democráticas, podem acabar conosco. Vejo falhas estruturais em relação à liberdade que se concede aos procedimentos autocratas, como se eles não fossem o embrião de um sistema que acabará com a democracia ainda que gradualmente. O Brasil é hoje uma democracia invertebrada atacada de osteoporose. A continuar neste ritmo, desaba a qualquer hora e acaba numa cadeira de rodas.
A democracia é exatamente essa frustração, é exatamente o meio de exercer uma tirania sob uma propaganda de liberdade e participação popular
Esqueça o deus que falhou. A democracia já nasceu morta, o que estamos vendo não é o surgimento de novos autocratas, mas apenas os velhos donos sendo expostos
Modelos de monarquias constitucionais, republicas limitadas pela lei e outras propostas ainda mais sofisticadas devem tomar o lugar das democracias e exercer governos mais conectados com o real e não cheio dessas ilusões românticas compartilhadas por liberais e socialistas
Acredito que precisaríamos explorar algumas premissas sobre democracia liberal para entender se estamos ou não falando da mesma coisa ou do mesmo processo.
Parece que não estamos quando leio alguns dos seus argumentos.
Me parece também que quando você argumenta que por muito tempo o mundo funcionou assim, isso sim me parece uma romantização de um período em que o que imperava era a força e a liberdade não era nem de perto a que conquistamos nos períodos mais plenos com a democracia liberal.
Quando você fala da política local, isso é muito próximo do que entendo sobre democracia. Se me permite tente investigar um pouco sobre democracia como modo de vida, ideias muito interessantes nessa linha, a meu ver.
Não tenho nenhuma romantização sobre o período antigo, mas também é um grande exagero dizer que era a força que imperava. A começar que a própria descentralização das antigas cidades-estado, e depois dos feudos e reinados, servia de contraponto à concentração de poder que precede o uso descomedido da força.
Também vale dizer que nem todo rei era déspota, ou tirano, assim como também não havia liberdade plena, assim como não há hoje ou nunca houve. Mas é simplesmente caricata a ideia de que antes das repúblicas modernas havia o "império da força", essa sim é uma visão romântica sobre o período moderno. A nobreza, os senhores feudais e o clero muitas vezes apresentavam algum tipo de balanço ao poder monárquico que a tripartite divisão republicana jamais sonhou — principalmente hoje. Isso quando não haviam estruturas similares às atuais como assembléias, senados e câmaras. O próprio Montesquieu prescreveu sua ideia de pesos e contra-pesos partindo da estrutura do Império Romano e de seus sucessores que surgiram na Europa após sua queda. Nada disso é realmente novo.
No entanto o surgimento dos estados-nacionais, isso já por volta do século XVI, usando a expansão territorial que surgiu nas grandes navegações, possibilitou que monarcas se consolidassem como tiranos senhores de estados gigantescos, politicamente centralizados, economicamente escravagistas e pautados no uso da força de maneira desmedida. O período dos estados-nação foi, de fato, um período de domínio da força.
Só que acontece que esses estados não retrocederam no uso da força quando se tornaram em repúblicas e muito menos como democracias modernas. A liberdade na era das democracias foi mediada pelo avanço tecnológico, industrial e no papel do poder econômico se contrapondo de maneira muito sensível com o poder político, em um tênue balanço de forças que, quando minimamente desequilibrado, ou descambava rapidamente para algum regime brutalmente autocrático, ou no cenário atual, pós Guerra Fria, caminhou para aquilo que Alexis de Tocqueville chamou de "despotismo democrático". Foi o poder econômico que consolidou o fim da escravidão, o surgimento dos direitos de propriedade e a segurança jurídica e institucional como pilar das republicas modernas, não foram as democracias responsáveis por esses balanços na violência institucional.
Para essa conclusão também vale frisar que penso a política, em termos reais, como o uso da violência de forma institucional para imposição de certos interesses sobre um dado território, e o que digo de "política local" seria uma mobilização orgânica de reação para maximizar o custo desta violência institucional, de forma que exista um balanço que torne este empreendimento de poder algo caro e complexo quando usado fora de uma escala "socialmente aceitável". Neste entendimento, vejo que de uma forma ou de outra, desde a àgora aos mercadores venezianos, os agentes econômicos sempre participaram deste poder local em contraponto ao poder institucional.
Entretanto, graças ao avanço industrial a economia saiu da política local e se tornou uma dimensão do poder em si mesmo, enfraquecendo o papel da política local como contrapeso à política institucional, ao mesmo tempo que consolidou o poder econômico como principal elemento de balanço ao poder político.
Aqui vejo que as democracias modernas propagandearam como um sucesso dos freios e contra-freios republicanos o que na verdade era o equilíbrio frágil da disputa do poder econômico contra o poder institucional.
Mas tão logo o poder econômico é enfraquecido pelo poder político, a farsa democrática se desfaz, os pesos e contrapesos dos poderes se mostram ineficientes e rapidamente as tão pretensamente livres repúblicas modernas se convertem em um despotismo oligárquico tão ou mais repressor e autoritário quanto todos os tiranos de antigos regimes. Foi assim no início do século XX, com o enfraquecimento do poder econômico diante das guerras mundiais e crises na bolsa, e novamente acontece hoje por outros motivos.
Por isso que entendo a democracia como uma farsa conveniente para ocultar uma oligarquia, e não vejo outra admissão do termo. Acredito que o que você sugere como "democracia como estilo de vida" possa remeter à uma tentativa até de institucionalizar a política local, o que vejo como uma tentativa incoerente por definição, ainda que necessária em algum grau para frear de maneira prática o avanço descontrolado do poder político.
Aqui deixo claro que não compactuo da infantilidade comunista de suplantar o poder econômico pelo poder político institucional, para depois suplantar o poder político institucional por uma forma ingênua de poder local que seria o "absoluto da história". Eu acredito que o poder econômico, no capitalismo, se consolidou como uma via muito mais civilizada e eficiente de poder do que o poder político institucional, e que ele representa uma possibilidade de uma nova etapa de disputa de poder, pouco mais equilibrada, e que permite maior participação do balanço do poder local.
Mas não acredito em um progresso observável na história. Penso que essa nova conjuntura de poder (o poder econômico) é uma dimensão independente, que não é capaz de impor um fim ao poder político (seja local ou institucional), mas que permite maior complexidade neste jogo, como já vem demonstrado nas últimas décadas.
Ficou um textão, mas é basicamente isso que penso.
Existiria uma justiça independente? Por exemplo, se essa união de indivíduos que controla esse território impor ou não executar o que está acordado entre vocês, e mesmo vocês tentando um acordo amigável isso não acontece, você terá acesso a uma justiça independente para recorrer?
No longo prazo por exemplo, como garantir que esses acordos serão cumpridos?
O que o e fala sobre o e enfraquecimento da democracia eu concordo, na verdade eu tenho a impressão que concordamos com grande parte dos argumentos.
Mas me parece que discordamos em alguns pontos de como devem ser feitos.
No longo prazo não há como garantir cumprimento de acordos, em regime algum
Basta ver o estado atual das democracias liberais
Em tese, poderes menores poderiam mediar situações com poderes maiores através de tribunais livres, chefes de estado definidos como mediadores ou até mesmo por procuradores definidos pelos poderes. Durante um tempo muito o mundo funcionou assim entre cidades-estado, e até entre os atuais estados-nação ainda funciona em parte dessa forma (além da diplomacia exercida entre os países)
E certamente, concordamos na maior parte dos pontos, e eu diria que em termos de política institucional, para curto prazo, o teu caminho é o que há de ser feito, sem alternativas.
O que me pega é que não acredito em política institucional sem política consuetudinária: a política do dia-a-dia, do bairro, da vizinhança. É a política que relembra que a própria política é sobre poder e busca meios de balancear esse poder de forma real. Eu penso que cidadãos conscientes de que o poder é um mal necessário e que os mecanismos institucionais devem ser subordinados à esfera civil são imprescindíveis até para que ideias como as suas possam ser implementadas em um campo institucional
E esse pensamento leva a perceber toda forma de governo institucional como uma farsa a ser controlada, regulada, podada e eventualmente destruída. O equilíbrio institucional sempre necessita do equilibrio não-institucional para ser válido
E a democracia tem em sua essência a tendência a se perder nos personagens e impor a crença de que o teatro é real. Essa tendência leva ao ímpeto do absoluto institucional, isto é, a fé de que há possibilidade de encontrar soluções completas para as mazelas sociais através da política. Sei que, absolutamente, não é o que você defende, mas meu ponto é que a democracia, mesmo (e principalmente) em seus termos mais liberais possíveis, possui essa tendência em sua gênese.
A democracia liberal, o socialismo e o fascismo estão fadados aos lemas revolucionários de sua criação (liberté, egalité e fraternité) e são indissociáveis do vício revolucionário da razão autossuficiente - ao menos a razão prática
Penso que precisamos de modelos mais realistas e que rompam com essas teses iluministas que se provaram mais uma caricatura do mundo do que uma imagem deste.
Eu entendo esses modelos como um regime em que uma lei deve estabelecer os limites desse estado (ou união de indivíduos) através da propriedade privada e da proteção inviolável do direito à vida, e todo o mais segue o princípio da subsidiariedade, em que assuntos regionais devem ser tratados pela liderança regional, através de contratos e regulações que obedecem a lei geral
Essas lideranças regionais até podem seguir um princípio de democracia eleitoral para suas escolhas, desde que funcionários públicos e receptores de apoio do estado não votem; lideranças gerais não podem ser escolhidas por voto. Há de se ter meios mais sofisticados, como representantes orgânicos de entidades civis escolherem um líder nacional, um monarca, um prior ou até mesmo nenhuma liderança oficial, apenas um administrador dos negócios públicos
No mais, a democracia é não apenas dispensável como um problema. Na prática, nenhum regime é capaz de garantir a observação da lei para todos, apenas uma população consciente é capaz de pressionar seus governantes, com ameaças críveis, para equilibrar o crescimento do poder através do estado
A democracia atual, que não passa de um teatro populista, enfraqueceu a vigilância popular, tomou nossas armas e fortaleceu o estado sob a retórica do assistencialismo social e do medo.
Tornaram os estados-nação tão poderosos através de uma máquina de propaganda tão forte que a maioria subscreve a bota que nos pisa.
A democracia liberal tem que ser banida para sempre, tal como o nazismo e o comunismo. São regimes que surgiram do romantismo revolucionário e são indissociáveis das hipóteses modernas sobre o homem e o poder, hipóteses rejeitadas tanto pelo conhecimento tradicional como pela ciência
O fenômeno é mundial mas aqui no Brasil ele coincide com a famigerada “Era Lula”, com o domínio da quadrilha petista de assaltantes de cofres públicos que, não bastasse assalto sistemático, ainda vende a ideologia do século 19, que nunca deu certo. O negócio é tão ruim que elegeu, apenas por contraponto, uma anomalia humana como Bolsonaro, que lidera outra quadrilha, a dos golpistas adoradores de pneus.
Muito obrigado pelo comentário Kiko!
Excelente artigo!
Valeu Fernando!!!
Creio que o mindset democrático se diferencia da organização social correspondente. Muitos erros na estruturação mundial das entidades dos países democráticos provêm justamente da tolerância que este mindset estimula. Somos tolerantes com ideias divergentes, mas quando elas não são democráticas, podem acabar conosco. Vejo falhas estruturais em relação à liberdade que se concede aos procedimentos autocratas, como se eles não fossem o embrião de um sistema que acabará com a democracia ainda que gradualmente. O Brasil é hoje uma democracia invertebrada atacada de osteoporose. A continuar neste ritmo, desaba a qualquer hora e acaba numa cadeira de rodas.
A democracia é exatamente essa frustração, é exatamente o meio de exercer uma tirania sob uma propaganda de liberdade e participação popular
Esqueça o deus que falhou. A democracia já nasceu morta, o que estamos vendo não é o surgimento de novos autocratas, mas apenas os velhos donos sendo expostos
Modelos de monarquias constitucionais, republicas limitadas pela lei e outras propostas ainda mais sofisticadas devem tomar o lugar das democracias e exercer governos mais conectados com o real e não cheio dessas ilusões românticas compartilhadas por liberais e socialistas
Acredito que precisaríamos explorar algumas premissas sobre democracia liberal para entender se estamos ou não falando da mesma coisa ou do mesmo processo.
Parece que não estamos quando leio alguns dos seus argumentos.
Me parece também que quando você argumenta que por muito tempo o mundo funcionou assim, isso sim me parece uma romantização de um período em que o que imperava era a força e a liberdade não era nem de perto a que conquistamos nos períodos mais plenos com a democracia liberal.
Quando você fala da política local, isso é muito próximo do que entendo sobre democracia. Se me permite tente investigar um pouco sobre democracia como modo de vida, ideias muito interessantes nessa linha, a meu ver.
Não tenho nenhuma romantização sobre o período antigo, mas também é um grande exagero dizer que era a força que imperava. A começar que a própria descentralização das antigas cidades-estado, e depois dos feudos e reinados, servia de contraponto à concentração de poder que precede o uso descomedido da força.
Também vale dizer que nem todo rei era déspota, ou tirano, assim como também não havia liberdade plena, assim como não há hoje ou nunca houve. Mas é simplesmente caricata a ideia de que antes das repúblicas modernas havia o "império da força", essa sim é uma visão romântica sobre o período moderno. A nobreza, os senhores feudais e o clero muitas vezes apresentavam algum tipo de balanço ao poder monárquico que a tripartite divisão republicana jamais sonhou — principalmente hoje. Isso quando não haviam estruturas similares às atuais como assembléias, senados e câmaras. O próprio Montesquieu prescreveu sua ideia de pesos e contra-pesos partindo da estrutura do Império Romano e de seus sucessores que surgiram na Europa após sua queda. Nada disso é realmente novo.
No entanto o surgimento dos estados-nacionais, isso já por volta do século XVI, usando a expansão territorial que surgiu nas grandes navegações, possibilitou que monarcas se consolidassem como tiranos senhores de estados gigantescos, politicamente centralizados, economicamente escravagistas e pautados no uso da força de maneira desmedida. O período dos estados-nação foi, de fato, um período de domínio da força.
Só que acontece que esses estados não retrocederam no uso da força quando se tornaram em repúblicas e muito menos como democracias modernas. A liberdade na era das democracias foi mediada pelo avanço tecnológico, industrial e no papel do poder econômico se contrapondo de maneira muito sensível com o poder político, em um tênue balanço de forças que, quando minimamente desequilibrado, ou descambava rapidamente para algum regime brutalmente autocrático, ou no cenário atual, pós Guerra Fria, caminhou para aquilo que Alexis de Tocqueville chamou de "despotismo democrático". Foi o poder econômico que consolidou o fim da escravidão, o surgimento dos direitos de propriedade e a segurança jurídica e institucional como pilar das republicas modernas, não foram as democracias responsáveis por esses balanços na violência institucional.
Para essa conclusão também vale frisar que penso a política, em termos reais, como o uso da violência de forma institucional para imposição de certos interesses sobre um dado território, e o que digo de "política local" seria uma mobilização orgânica de reação para maximizar o custo desta violência institucional, de forma que exista um balanço que torne este empreendimento de poder algo caro e complexo quando usado fora de uma escala "socialmente aceitável". Neste entendimento, vejo que de uma forma ou de outra, desde a àgora aos mercadores venezianos, os agentes econômicos sempre participaram deste poder local em contraponto ao poder institucional.
Entretanto, graças ao avanço industrial a economia saiu da política local e se tornou uma dimensão do poder em si mesmo, enfraquecendo o papel da política local como contrapeso à política institucional, ao mesmo tempo que consolidou o poder econômico como principal elemento de balanço ao poder político.
Aqui vejo que as democracias modernas propagandearam como um sucesso dos freios e contra-freios republicanos o que na verdade era o equilíbrio frágil da disputa do poder econômico contra o poder institucional.
Mas tão logo o poder econômico é enfraquecido pelo poder político, a farsa democrática se desfaz, os pesos e contrapesos dos poderes se mostram ineficientes e rapidamente as tão pretensamente livres repúblicas modernas se convertem em um despotismo oligárquico tão ou mais repressor e autoritário quanto todos os tiranos de antigos regimes. Foi assim no início do século XX, com o enfraquecimento do poder econômico diante das guerras mundiais e crises na bolsa, e novamente acontece hoje por outros motivos.
Por isso que entendo a democracia como uma farsa conveniente para ocultar uma oligarquia, e não vejo outra admissão do termo. Acredito que o que você sugere como "democracia como estilo de vida" possa remeter à uma tentativa até de institucionalizar a política local, o que vejo como uma tentativa incoerente por definição, ainda que necessária em algum grau para frear de maneira prática o avanço descontrolado do poder político.
Aqui deixo claro que não compactuo da infantilidade comunista de suplantar o poder econômico pelo poder político institucional, para depois suplantar o poder político institucional por uma forma ingênua de poder local que seria o "absoluto da história". Eu acredito que o poder econômico, no capitalismo, se consolidou como uma via muito mais civilizada e eficiente de poder do que o poder político institucional, e que ele representa uma possibilidade de uma nova etapa de disputa de poder, pouco mais equilibrada, e que permite maior participação do balanço do poder local.
Mas não acredito em um progresso observável na história. Penso que essa nova conjuntura de poder (o poder econômico) é uma dimensão independente, que não é capaz de impor um fim ao poder político (seja local ou institucional), mas que permite maior complexidade neste jogo, como já vem demonstrado nas últimas décadas.
Ficou um textão, mas é basicamente isso que penso.
Existiria uma justiça independente? Por exemplo, se essa união de indivíduos que controla esse território impor ou não executar o que está acordado entre vocês, e mesmo vocês tentando um acordo amigável isso não acontece, você terá acesso a uma justiça independente para recorrer?
No longo prazo por exemplo, como garantir que esses acordos serão cumpridos?
O que o e fala sobre o e enfraquecimento da democracia eu concordo, na verdade eu tenho a impressão que concordamos com grande parte dos argumentos.
Mas me parece que discordamos em alguns pontos de como devem ser feitos.
No longo prazo não há como garantir cumprimento de acordos, em regime algum
Basta ver o estado atual das democracias liberais
Em tese, poderes menores poderiam mediar situações com poderes maiores através de tribunais livres, chefes de estado definidos como mediadores ou até mesmo por procuradores definidos pelos poderes. Durante um tempo muito o mundo funcionou assim entre cidades-estado, e até entre os atuais estados-nação ainda funciona em parte dessa forma (além da diplomacia exercida entre os países)
E certamente, concordamos na maior parte dos pontos, e eu diria que em termos de política institucional, para curto prazo, o teu caminho é o que há de ser feito, sem alternativas.
O que me pega é que não acredito em política institucional sem política consuetudinária: a política do dia-a-dia, do bairro, da vizinhança. É a política que relembra que a própria política é sobre poder e busca meios de balancear esse poder de forma real. Eu penso que cidadãos conscientes de que o poder é um mal necessário e que os mecanismos institucionais devem ser subordinados à esfera civil são imprescindíveis até para que ideias como as suas possam ser implementadas em um campo institucional
E esse pensamento leva a perceber toda forma de governo institucional como uma farsa a ser controlada, regulada, podada e eventualmente destruída. O equilíbrio institucional sempre necessita do equilibrio não-institucional para ser válido
E a democracia tem em sua essência a tendência a se perder nos personagens e impor a crença de que o teatro é real. Essa tendência leva ao ímpeto do absoluto institucional, isto é, a fé de que há possibilidade de encontrar soluções completas para as mazelas sociais através da política. Sei que, absolutamente, não é o que você defende, mas meu ponto é que a democracia, mesmo (e principalmente) em seus termos mais liberais possíveis, possui essa tendência em sua gênese.
A democracia liberal, o socialismo e o fascismo estão fadados aos lemas revolucionários de sua criação (liberté, egalité e fraternité) e são indissociáveis do vício revolucionário da razão autossuficiente - ao menos a razão prática
Penso que precisamos de modelos mais realistas e que rompam com essas teses iluministas que se provaram mais uma caricatura do mundo do que uma imagem deste.
Obrigado Danilo,
Esses modelos que você cita de republicas limitadas pela lei é democracia não é?
Entendo a democracia não como uma visão romântica mas como um ambiente em que a lei impera realmente , o Rule of Law.
Se não for através da democracia, como garantir que as leis valerão para todos?
Eu entendo esses modelos como um regime em que uma lei deve estabelecer os limites desse estado (ou união de indivíduos) através da propriedade privada e da proteção inviolável do direito à vida, e todo o mais segue o princípio da subsidiariedade, em que assuntos regionais devem ser tratados pela liderança regional, através de contratos e regulações que obedecem a lei geral
Essas lideranças regionais até podem seguir um princípio de democracia eleitoral para suas escolhas, desde que funcionários públicos e receptores de apoio do estado não votem; lideranças gerais não podem ser escolhidas por voto. Há de se ter meios mais sofisticados, como representantes orgânicos de entidades civis escolherem um líder nacional, um monarca, um prior ou até mesmo nenhuma liderança oficial, apenas um administrador dos negócios públicos
No mais, a democracia é não apenas dispensável como um problema. Na prática, nenhum regime é capaz de garantir a observação da lei para todos, apenas uma população consciente é capaz de pressionar seus governantes, com ameaças críveis, para equilibrar o crescimento do poder através do estado
A democracia atual, que não passa de um teatro populista, enfraqueceu a vigilância popular, tomou nossas armas e fortaleceu o estado sob a retórica do assistencialismo social e do medo.
Tornaram os estados-nação tão poderosos através de uma máquina de propaganda tão forte que a maioria subscreve a bota que nos pisa.
A democracia liberal tem que ser banida para sempre, tal como o nazismo e o comunismo. São regimes que surgiram do romantismo revolucionário e são indissociáveis das hipóteses modernas sobre o homem e o poder, hipóteses rejeitadas tanto pelo conhecimento tradicional como pela ciência